Fonte: http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2015/09/perdeu-o-emprego-e-quer-se-qualificar-para-melhorar-o-curriculo-veja-dicas.html
Perdi o emprego, e agora? Ao longo desta semana, o G1
vai dar dicas para quem está sem trabalho, e contar histórias de
brasileiros que superaram essa dificuldade e voltaram a se recolocar
O engenheiro químico Marcelo Roberto Scapol, de 45 anos, decidiu usar o
tempo que sobrava após perder o emprego e o dinheiro que havia recebido
da rescisão para ampliar seus conhecimentos na Europa.
Scapol perdeu o emprego em junho de 2014 e não conseguiu recolocação
por um ano. Ele trabalhava numa multinacional como gerente de produção.
Após a demissão, devido ao corte de custos na empresa, Scapol tomou a
decisão de ir para Dublin melhorar o inglês, fazer cursos de
aperfeiçoamento e intercâmbio profissional.
“Não tinha isso em mente até perder o emprego, porém, após a rescisão
do meu contrato, não consegui me recolocar, o que me fez avaliar a
possibilidade de aperfeiçoar o inglês e me desenvolver profissionalmente
com cursos voltados à minha formação”, conta.
Além do curso de inglês, com duração de 6 meses, ele começará daqui a 3
meses, após ter mais segurança na língua inglesa, cursos de coaching e
gerenciamento de projetos, que deverão durar outros seis meses.
“Muitas empresas avaliam currículo pelos cursos e formações, e no nível
executivo a experiência importa. Porém, com formação no exterior, o
candidato se destaca e faz a diferença em critérios de empate”, afirma.
O dinheiro que Scapol está usando para bancar os custos da viagem é da
rescisão de contrato. Ele chegou a Dublin há 15 dias e pretende ficar de
6 meses a 1 ano, pois tem planos de voltar ao Brasil. “Estou sendo
assessorado por uma consultoria de recolocação que irá me ajudar a
voltar ao mercado”, diz.
No entanto, Scapol diz que não está otimista em relação a uma melhora
no mercado de trabalho brasileiro e tem como “plano B” estar preparado
para trabalhar na Irlanda ou em países próximos na área de engenharia de
projetos e de produção.
Procura por intercâmbio
De acordo com a gerente de produtos da CI – Intercâmbio e Viagem, Luiza
Vianna, a procura por intercâmbios continua grande, apesar da
desaceleração na economia. O principal perfil de quem procura por
experiências no exterior continua sendo de jovens e profissionais que
querem melhorar o inglês e o currículo para o mercado de trabalho, como é
o caso de Scapol.
“O Brasil é um mercado forte para intercâmbio lá fora”, diz. Segundo
ela, aumentou a demanda pelo Canadá em detrimento aos EUA, e da Irlanda e
Malta em substituição à Inglaterra. Além de optar por destinos mais
baratos, com moedas menos valorizadas em relação ao real, o consumidor
tem adiado a viagem para se planejar melhor e optado por parcelamentos
mais longos.
“O comportamento do consumidor mudou ao longo dos anos, antes ele vinha
em cima da hora, e hoje em dia já começa a pagar para viajar daqui a um
ano, ou opta por estudar menos tempo lá fora”, afirma.
Dicas de especialistas
De acordo com Karina Freitas, diretora de transição de carreira da
Stato, o período de transição de carreira pode ser muito produtivo para
reflexões, ajustes na sua trajetória profissional e até mesmo para
descansar, colocar a vida em ordem e se divertir.
"Defina um objetivo claro, planeje como irá atingi-lo, o tempo e
recursos necessários para chegar lá. Se fez um bom planejamento
financeiro, pode se dar ao luxo de viajar, conhecer lugares novos e até
mesmo fazer um sabático antes de pensar na sua recolocação no mercado.
Mas, se não tiver muito fôlego financeiro, pense em se aperfeiçoar
fazendo cursos de curta duração que reforcem os diferenciais
competitivos para aumentar suas chances como candidato”, recomenda.
Veja abaixo mais dicas de Erik Penna, consultor e palestrante motivacional, e da coach Bibianna Teodori:
De acordo com Erik Penna, o período sabático é ótimo para oxigenar as
ideias, conhecer lugares e ampliar horizontes, o que amplifica
conhecimentos, ações e resultados. “Mas se o momento mais oportuno para
fazer isso é logo após a demissão, vai depender das reservas
financeiras. Faça as contas, é arriscado investir todo o recurso
recebido na rescisão. Cabendo no bolso, o ideal é investir um pequeno
valor numa viagem e reservar uma boa quantia para poder esperar mais
tranquilamente a próxima oportunidade”, aconselha.
“É importante planejar tudo sobre o ano sabático. Afinal, o período,
como todo projeto, deve ter início, meio e fim. Para que seja um
sucesso, é importante manter ativos todos os fios de conexão da sua
vida”, diz Bibianna.
Para ela, é preciso superar obstáculos mentais, como o medo e a
angústia sobre o futuro. “Essas barreiras se tornam ainda mais
acentuadas para a realidade brasileira, que não possui a cultura do
período sabático. É importante fazer um bom plano e um alinhamento
pessoal e familiar, considerando os graus de dificuldades para cada
perfil de pessoa”.
“Se a desculpa era falta de tempo ou dinheiro, isso acabou. Uma
atualização, além de otimizar conhecimentos e habilidades, poderá
contribuir para conquistar uma melhor ou mais rápida recolocação.
Transmite, ainda, a imagem de que você não está parado na zona de
conforto, mas sim buscando aprimoramento e melhoria contínuos”, diz
Penna.
Segundo Bibianna, mandarim, inglês e espanhol são as línguas mais
faladas ao redor do mundo. “Pensando na recolocação no mercado, é
importante se preparar para realizar viagens internacionais. Estudar
outros idiomas também significa conhecer outras pessoas, fazer
networking, se conectar com outros professionais. Hoje em dia, falar
diferentes idiomas significa também tornar-se indispensável e
requisitado no mercado de trabalho, além de ajudar a entender melhor
outras culturas”, afirma.
Penna cita pesquisa da Catho que aponta que o profissional sênior, com
especialização, costuma ganhar 20,6% a mais. Já quem tem MBA chega a
ganhar 33% a mais.
“Mas, no caso de um desempregado, só vale a pena fazer uma
especialização ou MBA se tiver uma boa quantia financeira reservada. É
arriscado, logo após a demissão e num período de incertezas econômicas,
comprometer a renda com um curso de longa duração, em geral 18 ou 24
meses, uma vez que não é possível saber nem se irá conseguir honrar
todas essas parcelas caso o emprego não apareça”, pondera.
Para Bibianna, ter uma pós gera boa impressão, pois mostra que o
profissional busca constante aperfeiçoamento, e pode ser diferencial em
processos seletivos. “Antes de qualquer coisa, reflita quais as
habilidades e aptidões que serão desenvolvidas durante o percurso. O
profissional deve estar certo que a área estudada é a que ele quer
seguir. Para reconhecer o momento, basta observar os requisitos pedidos
pelo mercado de trabalho”, diz.
Segundo Penna, o período pós-demissão tende a ser reflexivo, mas é
preciso agir com calma, pois nem tudo está perdido ou requer uma mudança
radical. “A decisão por iniciar uma nova faculdade precisa ser bem
analisada, afinal, é algo de longo prazo, 4 ou 5 anos. Se essa decisão
não for assertiva, a pessoa poderá iniciar um novo curso e, em poucos
meses, aceitar uma proposta na mesma área que já atuava. Isso poderá
fazê-la abandonar a faculdade, desperdiçando tempo e dinheiro”.
Penna considera que qualificação gera aprimoramento, deixa a pessoa
atualizada e antenada com as novidades, amplia a rede de contatos e a
expertise profissional.
Ele recomenda investir não só em cursos, mas na leitura de revistas e
livros da área, jornais e textos na internet, além de participar de
eventos e encontros do setor em que atua.
Bibianna diz que o profissional deve avaliar as competências que não
tem e procurar desenvolvê-las. “Os cursos de qualificação são vistos
como alternativa para fugir da crise e reconquistar um emprego no
momento em que as empresas voltarem a contratar”, afirma. Segundo ela,
os cursos são o caminho mais rápido para exercer uma atividade que dê
renda, mas é preciso analisar o mercado.
Penna considera que curso profissionalizante ou técnico tem bom
custo-benefício, pois com baixo investimento é possível identificar em
pouco tempo o real interesse e desempenho em uma nova carreira.
Mas, ele opina que, antes de decidir mudar de carreira, o profissional
deve responder às seguintes questões: Por que quero mudar de carreira?
Tenho paixão pela nova profissão? Tenho performance acima da média
diante dos novos concorrentes? Se aparecer uma oportunidade amanhã na
minha função atual irei continuar esse novo curso na faculdade? Isso me
fará melhor e mais feliz? Há espaço e o mercado costuma remunerar essa
nova expertise o quanto eu espero?
Segundo Bibianna, buscar uma nova carreira pode ser uma boa saída
somente para quem não gosta do trabalho atual. Para ela, é preciso
autoconhecimento para entender as motivações que levam ao desejo de
mudança para tudo ocorrer de forma estruturada e alinhada com as metas
de vida. “É importante definir qual carreira deseja seguir, qual área
atende às necessidades profissionais e pessoais, conhecer as
competências e definir um plano de ação.”